Dias inesquecíveis da vida.
– Olha, eu pus algumas velas na mesa. Acho a luz fria da sala de jantar muito feia, e como não queria tirar o abajur do quarto… Estou te avisando antes para evitar o climão meio brega, e, se você quiser, eu posso tirar as velas.
– Não, pode deixar, está tudo bem.
E sorri.
Tudo bem como sempre, penso eu, com o estômago batido pela excitação.
Eu fico imaginando de onde vem essa familiaridade que o rosto dela me passa. A beleza é assustadora, como se eu a tivesse sonhado. Como se ela fosse uma personagem da minha esquizofrenia. Ela me liberta e me inspira, consegue fazer sumir toda essa pressão boçal por sanidade. Tudo parece levemente ficcional e completamente entorpecido quando ela está por perto. Na minha mão ela gargalha e, vez ou outra, treme. Minha temperatura aumenta, literalmente, com a vontade de encostar em cada pedaço de pele, de sentir cada fio.
Ela me cerca e me larga. É fraca, fulgáz e incisiva. É entregue e travada. Eu tento outras formas de comunicação e preguei, com farinha, água e falta de vergonha, uma poesia nos postes da Rua.
No entanto, desde que a Toneleiros foi assediada pela minha fúria poética e destemido enfretamento do rídiculo, a idéia de sucesso parou de fazer sentido. Eu respiro o que me cerca e o destino da coisa que se foda. Já vi, muitas vezes por sinal, o filme de correr atrás de mulher: ele é longo, chato e o final muitas vezes é uma merda. Se ela quiser ir embora, ela pode ir. Se ela ficar, vamos ter o melhor da festa.
Fica andorinha, fica.
– Quer ir pra Las Vegas?
[Olha Maria,
Eu te coloco na cabeça
Em cada minuto vazio
Do vagão de metrô lotado
Ao travesseiro ainda frio.
No desejo da mão
E na poesia do peito
Fica o seu corpo latejando
Repara Maria,
Que eu penso bem no seu trato
Quando eu não sei o que comer
E no cigarro ainda apagado
Ouve Maria,
Que eu te falo todo dia
Quando não tem ninguém do lado
Nas manhãs de ressaca e sábado
Antes de entrar no banho
E no café do intervalo.
Sente Maria,
Que é você me fazendo companhia
Sempre que o ônibus chega atrasado
Aparece Maria,
Para matar os minutos vazios
Para ser meu vício
Meu cio
Aparece para ser meu fio
Condutor.]
Belíssimo.
😉
gostei da poesia no final.